Um excerto...

... do que sairá no dia 22 de Março.

Quando me fazem a pergunta “és lésbica? bi?” eu fico sempre sem saber bem o que responder. A dúvida mistura-se com a relutância de ter que colocar uma etiqueta nos sentimentos, porque é de sentimentos que se trata. Sentimentos que podem ser dirigidos a mulheres hoje mas não me livro de que amanhã possam ser dirigidos a homens.

Se, antes daquela tarde fatídica de 2001, alguém me dissesse que eu me ia apaixonar por uma mulher eu iria rir. Tal nunca me tinha passado pela cabeça, mas a verdade é que me apaixonei e que a partir dessa tarde tudo mudou. Não para melhor nem para pior. Mudou.

Hoje, 7 anos volvidos, sou mãe e partilho a minha vida (parte dela, porque é saudável não partilharmos tudo) com uma mulher. A minha maneira de ser, a minha forma de viver manteve-se. Porque é que teria de alterar isso só porque me relaciono com uma mulher? Não tenho. Nunca me exibi em público nas relações com homens e com mulheres ajo exactamente da mesma forma.

Tenho para mim que quando se age naturalmente as situações são aceites, mesmo que sejam aceites em silêncio. Nunca sofri qualquer tipo de recriminação ou descriminação. Mentira, há alguns anos atrás, num jantar de um grupo de mulheres homossexuais, houve quem pensasse que eu estava lá por ser irmã ou prima de alguém, isto só porque estava grávida e como tal não passava por aquela cabeça que eu pudesse estar com outra mulher.

Como mãe preocupa-me que um dia o meu filho possa sofrer alguma represália por esta minha escolha de vida mas a verdade é que acredito que não estando a fazer nada de errado e educando-o da forma que eu considero correcta (para qualquer outra pessoa pode ser a errada, mas isso não interessa) ele conseguirá defender-se. Na verdade os homens da vida dele são o Tio, o Padrinho, o Avô. A Mãe viverá ou estará sempre com a Tia, e é isto que faz sentido na cabeça dele.

Apesar de não ter o costume de lutar pelos direitos do que quer que seja acredito que o comum dos mortais não deva ser castrado dos mesmos por religião, credo ou orientação sexual. Penso que hoje a sociedade está "muito à frente" e acredito que irá estar cada vez mais e que com calma e persuasão chegar-se-à ao dia em que todos os casais possam usufruir das mesmas "regalias". O que não acredito é que isso seja conseguido através de marchas pela Avenida da Liberdade.

Pode ser parco mas a minha contribuição para esta peça será a minha maneira de dar um passo em frente e, se calhar, afinal até luto para que alguma coisa mude.