E porque este blog fez um ano esta semana

Aqui está uma das contribuições que eu fiz para o mesmo há muito tempo...

"Atropelada por um camião* ou o arrombamento da porta do armário**

Se alguém me dissesse, antes daquela tarde fatídica de 2001, que eu me ia apaixonar por uma mulher a minha resposta seria "ah ah ah ah". Não porque achasse que me fossem cair os parentes na lama (se caissem o que tinham de fazer era ir tomar uma banhoca para se limparem) mas porque nunca tal me tinha passado antes pela cabeça.

Nesse dia fatídico estava a trabalhar, era um dia igual a tantos outros (infelizmente). Ligaram-me do escritório...
tttrrrriiiimmmm ttttrrrrriiiiimmmm (é sempre melhor dar este toque de realismo à coisa e colocar a simulação do toque do telemóvel)
Director - Já podes vir buscar o teu carro de serviço, está aqui na garagem.
Eu- Ok. Passo quando sair aqui de Miraflores.

Rapidamente comecei a pensar como é que me iria safar com dois carros. Bom, sendo que eram os dois cabrios talvez fosse possível um autêntico acto de acrobacia e contorcionismo.

Não havia outra solução, iria ligar à única pessoa da empresa com quem eu tinha alguma afinidade e confiança apesar de só a conhecer há poucas semanas, afinal tinha começado a trabalhar naquela empresa há pouco mais de duas semanas...
tttrrrriiiimmmm ttttrrrrriiiiimmmm (na altura ainda não havia ring dings)
Ela - Olá
Eu - Olá, preciso de uma favor (digo eu logo à bruta)
Ela- Claro, diz lá.
Eu - Preciso que venhas ter comigo aqui a Miraflores para depois passarmos na Lapa para irmos buscar o meu carro de serviço.
Ela - Mas precisas que eu vá?
Eu - Tenho aqui o meu carro. Preciso depois de trazer os dois. Passamos em minha casa, deixamos um deles e depois deixo-te em casa.
Ela- Ok, estarei aí às seis e tal.

E lá continuei a trabalhar!

Às seis e tal levanto a cabeça do monitor do computador e vejo-a entrar pela sala de reuniões dentro. O que senti nesse momento nem sequer é passível de uma descrição com cabeça, tronco e membros. Assim que a vi o meu pensamento foi "pimba, já estás". Nesse momento deparei-me com o porMAIOR de me ter apaixonado por uma mulher. E agora?? Bom, agora vamos lá buscar o carro porque é para isso que cá estamos.

E fomos as duas no meu carro a falar sobre trabalho e sobre tudo e sobre nada. Eu a tentar controlar-me. Fizemos o planeado e ao chegar a casa dela para a deixar saiu a pergunta fatídica "queres entrar e ver as obras?"... eeerrrrr... "não", respondi rapidamente e pus-me a milhas!!!

Ora bem, eu estava perante três problemas... primeiro: tinha acabado de me apaixonar por uma mulher e tive que lidar com todo o turbilhão de sentimentos que isso implica, segundo: não fazia ideia se ela pertencia ao clube, e terceiro: eu sabia que ela tinha alguém.

Resolvi dissecar cada um dos problemas separadamente.

Primeiro: certo que apaixonar-me por uma mulher nunca me tinha passado pela cabeça mas também não ia transformar isso num drama. Desde o primeiro minuto que resolvi assumir isso como sendo o mais natural dos sentimentos e desde então sempre agi de igual forma quer estivesse com uma mulher ou com um homem... PROBLEM SOLVED

Segundo: em que clube jogaria ela?? Isso até que nem era relevante porque o terceiro problema anulava este.

Terceiro: ela tinha alguém. Portanto, sai de cena quem não é de cena e eu decidi que ficaria sossegada!

So far so good... ah pois... nas semanas que se seguiram foi uma dança de sedução de ambas as partes (confesso que da minha parte muitas coisas foram inconscientes e disseram-me que mandei mensagens que eu juraria que não tinha enviado).

Algures numa noite (já bem tarde)...
Ela - Não queres vir aqui a casa? Estou a acabar um trabalho e apetece-me conversar.
Eu - Bom, já estou deitada mas vou tomar duche e vestir-me e daqui a pouco já te ligo para me abrires a porta.

E lá fui... às tantas da manhã o diálogo das duas, deitadas em cima da cama de solteira dela, foi...
Ela - Tu já percebeste, não percebeste?
Eu - Que o teu namorado é uma namorada?
Ela (a sorrir) - Sim.
Eu - Há algum tempo que percebi.
Ela - E então?
Eu - Então o quê? Não me incomoda que seja uma namorada mas incomoda-me que tenhas namorada.
Ela - Tu atrais-me. Não me és indiferente.
Eu (a fugir para a outra ponta da cama) - Pois, mas o melhor é pararmos por aqui porque senão vai haver merda.

E adormecemos.

No dia seguinte acordamos, almoçamos com os pais dela e depois voltamos para o sotão (o quarto dela, do qual ainda me lembro todos os pormenores).

Ela - Vou beijar-te
Eu (a fugir) - Não, não vais.
Ela - Vou.
Eu (já encostada ao armário e sem saber onde me enfiar) - Não.

E beijou-me. E beijei-a. E beijamo-nos.

Depois nada mais foi igual na minha vida. Não mudou para melhor ou para pior. Mudou, simplesmente.

E o armário? Bom, no dia em que ela entrou pela sala de reuniões dentro foi o dia em que entrei no armário e foi também o dia em que rebentei com a porta para sair!


* Eu diria mais comboio mas tenho mais hipóteses de sobrevivência se for por um camião

** Estar dentro do armário e ser claustrofóbica é algo totalmente incompatível e como tal assim que me vi lá dentro CATRAPUM, rebentei com a porta... à bruta mesmo"

Parabéns pelo blog para onde há tempos eu contribuí!